sexta-feira, 19 de dezembro de 2008
Poemas do Ano Inteiro
No céu de abril
Pássaros bebem vento
E se embriagam de liberdade.
MAIO
Maio traz nos ventos
Promessas de felicidade
E grinaldas desfraldadas.
JUNHO
Azul de junho
Rabiolas são espermatozóides
Fecundando a imaginação.
JULHO
Embrulhado em seu azul
Julho é dádiva preciosa:
Encher os olhos
E o coração de mar.
AGOSTO
Teresina em festa
Lava a alma
Com a chuva do caju.
SETEMBRO
No abraço de luz
E calor de setembro
Ipês amarelam fugazes
Mais belos.
OUTUBRO
Faço-me criança
Em desabalada carreira
Entre umbus, cajus e a mangueira
Plantados no quintal da lembrança.
NOVEMBRO
Nuvens de chumbo
Prenunciam inverno
Que só virá
Nas asas das formigas.
DEZEMBRO
Sorrisos, paz desejada
De novo no ar
Cheiro de terra molhada.
JANEIRO
Promessas de mudanças
Para os dias que se vêm
Adiando... adiando.
FEVEREIRO
Raios riscam os céus
Da Chapada do Corisco
Ascendendo medos.
MARÇO
Na volta às aulas
As lições de recomeço
Têm cheiro de livro novo
quinta-feira, 11 de dezembro de 2008
Memória cor 2

DOIS MOMENTOS EM MAIO: Era 1991, depois de tomar uísque com Waldick Soriano, ouvi-lo cantar e contar causos, fiz a sua caricatura. O fotógrafo clicou no instante em que entrego o desenho para o Waldick, sob o olhar atento de Marinês Medrado. Se não me engano, ficamos bebendo à vida até umas 4 horas da manhã.
Memória cor 1
Memória P&B 5
Memória P&B 4
Memória P&B 3
Memória P&B
quarta-feira, 3 de dezembro de 2008
quarta-feira, 22 de outubro de 2008
Sagrano & Profado
terça-feira, 14 de outubro de 2008
Toda nudez será divulgada
sexta-feira, 26 de setembro de 2008
Ficção da realidade
Desiderato
Éramos um exército descomunal de 500 milhões, prontos para partir ao sinal de ataque do SNC, o comando central. A operação fora planejada com antecedência e tudo se encaminhava para o sucesso da empreitada.
Um barulho, então, foi ouvido e uma agitação violenta tomou conta de tudo ao redor. Soara o alarme e, queira Deus, não seja um ato solitário que destruiria todas as nossas esperanças. Era um ato real e, prontamente, nos agrupamos para a missão. Sabíamos o que nos aguardava e estávamos conscientes da necessidade de sacrificar todo o contingente para o êxito de um.
Partimos em velocidade seguindo a Ordem pré-determinada. Nessas ocasiões, o tempo é demais precioso para nos determos em conjeturas ou divagações filosóficas. Nada a questionar, apenas seguir em frente com a determinação de guerreiros intimoratos.
Crescia a agitação e mais frenéticos tornavam-se os movimentos que nos impeliam a seguir o curso natural das coisas que são o que são. É assim desde sempre. À medida que o ritmo aumentava, ficávamos mais velozes. Luzes dardejavam ao redor revelando rubros canais por onde nos movíamos. Sons guturais reverberavam por todos os lados; gritos intraduzíveis agora misturam-se a gemidos e arquejos. A tudo ouvimos sem perder a concentração nem nos dispersar. Sabíamos que seria questão de segundos para o zênite e tudo indicava que seria sincrônico o inadiável ápice. E foi, deu-se glande espasmo e mergulhamos no íntimo da rosa pluriaberta que estava acoplada à torre de jaspe — isso lembrava o Cântico dos Cânticos. O exército colossal ocupara, enfim, o território.
E envolveu-nos uma densa escuridão.
(Continua na próxima semana)
quarta-feira, 24 de setembro de 2008
O MEU VOTO VAI PARA...

Carta aberta para o meu candidato a vereador
Teresina, 24 de setembro de 2008
Meu vereador,
Não o nomeio aqui porque você sabe o meu voto. Já o declarei pessoalmente, pois tenho o privilégio de desfrutar da sua sincera amizade. Creia-me, não voto em você pela amizade; tenho vários amigos — de infância, inclusive — que disputam também uma vaga na Câmara Municipal de Teresina. Voto por acreditar no seu jeito novo de fazer política. Talvez não seja nova a sua maneira de encarar a vida pública e é provável que alguém já a tenha praticado alguma vez. Mas é o diferencial de qualidade: a sinceridade de propósitos.
A sua campanha é espartana; sua estrutura é quase nenhuma; promessas não existem; não há grupos ou financiadores ligados a você. Entretanto, estou certo de que estou votando em você mesmo.
Quem sou eu?! Ninguém importante. Sou apenas um cidadão com direito a voto. Sou eleitor. Mas eu prezo tanto pelo meu direito que você nem imagina. Não vendo nem troco o meu voto por favores ou benesses porvindouras. O meu voto é a expressão da minha consciência, a materialização da minha vontade e o meu desejo manifesto. Não se negocia desejo, vontade e consciência.
A cada eleição tenho a oportunidade de escolher meus representantes. Eleição no Brasil virou rotina democrática e eu me alegro muito com isto, pois já vivi numa época que não existiam eleições gerais e os ditadores de plantão decidiam por mim, por nós. Por isso acho deplorável a atitude dos “analfabetos políticos” que anulam o voto sem saberem, os imbecis, quão doloroso foi chegar até aqui; quantas lutas travadas; quantas vidas ceifadas; quantos desaparecidos nesse meu Brasil. Tudo isso para que todos nós tivéssemos a liberdade de escolher nossos representantes. Anular o voto é um desrespeito à memória desses heróis da democracia. É um desrespeito a si mesmo.
Tem toda uma história por trás de um voto, mas tem muito mais história depois de um voto. Eis a razão de eu prezá-lo tanto. Eis porque eu confio a você, meu vereador, o meu precioso e sagrado voto que pode não mudar muita coisa, porém, é a parte que me cabe exercer com responsabilidade e a certeza de fazer o que é certo.
Até a vitória diplomada! Senão, até a vitória de uma idéia!
Paulo Moura
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Dextra
quinta-feira, 11 de setembro de 2008
sábado, 23 de agosto de 2008
terça-feira, 19 de agosto de 2008
Anjo doido pra sair

Foi num desses dias em que a insônia foi minha companheira a noite toda. Contava caibros e ripas do teto sem forro, quando um barulho de asas batendo chamou minha atenção. Era um anjo azul de roupão carmim que tentava sair. Aquilo durou uns dez minutos, quando, com pena do pobre anjo, abri a janela para o dia que despontava com seus raios de ouro. Que nem as asas do anjo azul. E o anjo que tava doido pra sair, saiu...
Psicologia do contrário
Ana Beatriz, minha netinha de 1 ano e 9 meses, não gosta de comer. Todos em casa sofremos com a falta de apetite dela. Quando queremos que ela se alimente pelo menos um pouquinho, apelamos para a psicologia do contrário. Eu falo para ela: “Ana Beatriz, NÃO coma!” Ela faz uma cara sapeca de menininha teimosa e se dana a comer a sopa, a vitamina ou o que a sua aflita mãe prepare. Come tudo e ainda fica com ar de satisfeita.
quarta-feira, 11 de junho de 2008
O trema se foi

Não foi com tranquilidade que recebi a notícia do fim do trema. Um vento gélido, desses que os pinguins sentem nos pólos, percorreu minha espinha. Argui que era um absurdo, um final melancólico, o fim com uma só canetada. Alguns, mais afoitos, falam de iniquidade com a nossa língua. Mas foi o fim.
Adeus, trema.
terça-feira, 27 de maio de 2008
Para H. Dobal
Céu dos Poetas
fim-de-tarde
sem ocaso.
Lua prateadíssima
sem crescentes
nem minguantes.
Cigarras sibilantes
anunciam as tardes
sem fim.
Âmbar é a cor
que a tudo cobre.
Assim se descobre,
num animado jogral
Drummond, Bandeira,
Quintana e Dobal.
Paulo Moura
Teresina, 27/05/2008
terça-feira, 6 de maio de 2008
quinta-feira, 24 de abril de 2008
Conto
Passava o dia assistindo televisão. Mas aquele dia estava estranho. Ele e o dia.
Pegou uma xícara de café e sintonizou o noticiário matinal da TV. Encontrava-se ainda sonolento, noite mal dormida. NOVA YORK, A CIDADE QUE NUNCA DORME, ACORDOU HOJE SONOLENTA. O METRÔ REGISTROU UMA QUEDA DE 30% NO NÚMERO DE PASSAGEIROS...
Estendeu a mão para colocar a xícara na mesinha; desatento, a xícara ficou na borda, titubeou e caiu no chão partindo-se em vários pedaços. Droga, vociferou pra si mesmo. UM TERREMOTO DE 6 GRAUS NA ESCALA RICHTER ATINGIU O CENTRO DE TÓQUIO NA MANHÃ DE HOJE. O ABALO DESTRUIU CENTENAS DE PRÉDIOS CAUSANDO A MORTE DE VÁRIAS PESSOAS... Ouviu a notícia sem muito interesse, preocupado apenas com o calor que aumentara no minúsculo apartamento. UMA ONDA DE CALOR INVADIU O NORTE DA GRÉCIA COM TEMPERATURAS ACIMA DE 42 GRAUS. SEGUNDO FONTES OFICIAIS, É A MAIOR TEMPERATURA JÁ REGISTRADA NA HISTÓRIA...
Olhou para a televisão e procurou se concentrar nas notícias. Desconfiava que alguma coisa estranha estava ocorrendo ali. OS INVESTIDORES ESTÃO DESCONFIADOS COM O MERCADO TEMENDO UMA POSSÍVEL DESVALORIZAÇÃO DO CÂMBIO...Que seria isso? Pensava numa palavra e a palavra era dita na TV?! Fez um teste e pensou com firmeza algo que não tivesse nenhuma relação. A primeira imagem que lhe veio à mente foi laranja. O BRASIL TEVE A MENOR SAFRA DE LARANJA NOS ÚLTIMOS DEZ ANOS. O MOTIVO, ALEGAM OS PRODUTORES, É A MUDANÇA CLIMÁTICA CAUSADA PELO DERRETIMENTO DAS CALOTAS POLARES... Coincidência, pensou. Pura coincidência. Agora eu quero ver: “Brega!” O CANTOR BREGA BATISTA SORIANO FOI ENCONTRADO MORTO EM SEU APARTAMENTO NESSA MANHÃ. A CAUSA DA MORTE AINDA NÃO FOI REVELADA. PESSOAS LIGADAS AO CANTOR FALAM EM DEPRESSÃO...
Não podia ser coincidência. Não era coincidência. O coração agora batia acelerado. Na televisão, o locutor prosseguia... PESQUISADORES DA UNIVERSIDADE DE MASSACHUSSETS DESCOBRIRAM QUE A TAQUICARDIA É MAIS COMUM DO QUE SE IMAGINAVA... Os pensamentos acorriam em turbilhão, mil imagens surgiam em sua mente, agora, perturbada com tudo aquilo. Ele era o mundo e o mundo era ele. Piração. Doideira...OS INTERNOS DO HOSPITAL PSIQUIÁTRICO ESTADUAL SERÃO TRANSFERIDOS PARA OUTRAS UNIDADES. O MOTIVO É A CRESCENTE ONDA DE AGITAÇÃO QUE TOMOU CONTA DE TODOS OS INTERNOS. UMA DOIDEIRA, COMO DISSE O DIRETOR GERAL...
Agora ele entendia tudo. Toda a sua vida procurou pelo sentido da sua existência. Essa medíocre existência, carregada de sofrimentos, decepções, tristezas mais que alegrias, medo e ansiedade por um futuro que nunca chegava. Sorriu com ar de infinita compreensão. Equacionara a vida, abarcava tudo o que houve, há e haverá. E uma sensação de onipotência invadia a sua alma. Sentia que poderia fazer qualquer coisa, mudar o que quisesse na ordem caótica do mundo. Ele era o mundo.
Pegou o controle remoto da TV... NÃO FAÇA ISSO! ERA A EXPRESSÃO QUE SE OUVIA DIANTE DO PRÉDIO DO EDIFÍCIO ALEPH, ONDE UM HOMEM AMEAÇAVA SE JOGAR DO 13° ANDAR... O sorriso de compreensão agora mudara para um sorriso pétreo, olhos com um brilho demoníaco e angelical. Bem e Mal em fusão na expressão de seu rosto. O controle remoto na mão e a firme decisão de desligar a maldita televisão.
Nem pensou mais. Agora ele sabia tudo. Desligou a televisão. A imagem desaparecia em fade; lentamente se desvanecia. O azul da tela cedia lugar ao preto. Buraco negro, ainda pensou um instante. Mas era tarde demais. O último ponto luminoso da tela desaparecia juntamente com seu último suspiro.