sexta-feira, 26 de setembro de 2008

Ficção da realidade

Desiderato

Éramos um exército descomunal de 500 milhões, prontos para partir ao sinal de ataque do SNC, o comando central. A operação fora planejada com antecedência e tudo se encaminhava para o sucesso da empreitada.

Um barulho, então, foi ouvido e uma agitação violenta tomou conta de tudo ao redor. Soara o alarme e, queira Deus, não seja um ato solitário que destruiria todas as nossas esperanças. Era um ato real e, prontamente, nos agrupamos para a missão. Sabíamos o que nos aguardava e estávamos conscientes da necessidade de sacrificar todo o contingente para o êxito de um.

Partimos em velocidade seguindo a Ordem pré-determinada. Nessas ocasiões, o tempo é demais precioso para nos determos em conjeturas ou divagações filosóficas. Nada a questionar, apenas seguir em frente com a determinação de guerreiros intimoratos.

Crescia a agitação e mais frenéticos tornavam-se os movimentos que nos impeliam a seguir o curso natural das coisas que são o que são. É assim desde sempre. À medida que o ritmo aumentava, ficávamos mais velozes. Luzes dardejavam ao redor revelando rubros canais por onde nos movíamos. Sons guturais reverberavam por todos os lados; gritos intraduzíveis agora misturam-se a gemidos e arquejos. A tudo ouvimos sem perder a concentração nem nos dispersar. Sabíamos que seria questão de segundos para o zênite e tudo indicava que seria sincrônico o inadiável ápice. E foi, deu-se glande espasmo e mergulhamos no íntimo da rosa pluriaberta que estava acoplada à torre de jaspe — isso lembrava o Cântico dos Cânticos. O exército colossal ocupara, enfim, o território.

E envolveu-nos uma densa escuridão.

(Continua na próxima semana)

Nenhum comentário: